Tem cabido a António Matos defender o indefensável em relação ao trânsito de Almada, dado que a actual Presidente da Câmara tem tentado - e conseguido - não dizer nada sobre o assunto nem ser interrogada acerca dele. mas tem-no feito desastradamente, antes aumentando a tensão entre os comerciantes e o município. Agora, junta ao rol de frases infelizes e incendiárias a notável afirmação de que o problema acontece, diz ele, numa "pequena àrea de Almada" e a acusação de "pirotecnia mediática" aos comerciantes.
António Matos, em nome da CDU, ao reduzir os problemas do centro urbano de Almada a uma contagem dos metros quadrados que ocupa demonstra que não percebe a função de um centro urbano. Por definição, não deve ser muito extenso. Igualmente por definição deve ser plurifuncional, acessível e dinâmico. Ora, o que a falta de sensibilidade da Câmara fez foi torná-lo dificilmente acessível, ao cortá-lo ao meio, amputando a maior avenida da possibilidade de ligar nascente e poente da cidade. O que a ausência de uma programação de animação coerente emínima fez foi não lhe dar dinamismo de nenhum tipo, potenciando a desertificação. A falta de visão estratégica fez ainda com que não fossem isntalados no centro quaisquer novos espaços-âncora, como o seria a Loja do Cidadão, que atraíssem as pessoas, a diferentes horas do dia. Tudo isso junto, os erros e omissões da Câmara ameaçam a plurifuncionalidade do centro urbano de Almada, como os comerciantes perceberam.
Eles são apenas o grupo que actualmente se manifesta mais ruidosamente. Eles sobrevalorizam até, no seu discurso, apenas um factor, aquele que imediatamente percebem como seu adversário, no caso as restrições absurdas e irracionais ao trânsito automóvel. Mas há muitos outros, da falta de paragem de táxis e erros na sua localização à gestão do estacionamento; da ausência de uma carreira urbana coerente aos erros de desenho do percurso do Metro e das suas paragens; de não se ter pensado melhor a localização de equipamentos colectivos à falta de programação cultural adequada e acontecendo ao longo dos doze meses.
A CDU pensa - como já o deixou claro em comunicado - que dar vida ao centro de Almada é patrocinar uma vez por ano as iluminações de Natal, subsidiar uma tômbola electrónica e um desfile de moda. Agora, pensa que oferecer estacionamento gratuito de 1 a 15 de Agosto, quando as pessoas estão de férias, é uma medida capaz de silenciar os protestos. Levou tão longe os seus exercícios de propaganda que já os confunde com realidade. Ter política para o centro da cidade é muito mais do que isso. Os comerciantes sentem-no e os cidadãos sabem-no. Só o bombeiro incendiário da CMA e quem ele representa não o percebe.
Perante a gravidade do que está a ocorrer, que António Matos venha agora acusar os cidadãos de seguirem um ou outro partido que não o dele, resulta da sua própria cegueira face aos problemas. Já todos viram que o centro tem que mudar, não há pressões ilegítimas da CDU sobre pessoas ou dirigentes associativos que o calem. Mas, que diga que agora os especialistas estão a estudar o assunto, quer dizer apenas que está a tentar comprar tempo para minimizar danos até que passem as eleições. Por isso, repito, não há boa explicação para que a CDU deixe agonizar o centro de Almada e agudizar o conflito com os comerciantes. Se não os ouvir antes das eleições, nós resolveremos o problema depois , porque Almada precisa de nova política para o centro da cidade e a CDU já não é sequer capaz de perceber o conceito subjacente a tal política.
A tentativa incendiária de dividir os comerciantes, de dividir os interesses do centro da cidade do resto do concelho e de adiar decisões que podem ser tomadas já, apenas tornam claro que a CDU não tem energia para resolver o problema. O uso de um vereador para esconder a responsabilidade pessoal de Maria Emília de Sousa nas decisões tomadas e na sua não revogação são apenas pequenos truques que não enganam um eleitorado democrático e maturo como o de Almada.
Por isso renovo o desafio à CDU para que tome enquanto ainda está no poder as medidas que podem ser tomadas já, como a revogação do Plano Mobilidade XXI e não se escude em estudos técnicos que agora não são necessários. Basta andar pelo centro da cidade para perceber o problema. Não é quem protesta que está contra a CDU, é a CDU que passou a estar contra o centro da cidade.